Ah pois é... mas não devia ser. Malária mais uma vez. A quarta no espaço de um ano para ser mais precisa e só posso dizer: estou farta.
Mas isso sou eu que a tenho pela quarta vez. A maioria dos meus amigos em Moçambique também já partilharam da experiência mas de uma forma mais suave. Uma, duas malárias. Eu estou no top dos tops com um "honroso" primeiro lugar.
Devo dizer-vos que os sintomas associados são de deixar qualquer um de rastos e imediatamente prostrado numa cama no que pode variar entre três a cinco dias ou até uma semana. Febres altas, dores de cabeça (principalmente localizadas na nuca), dores corporais, diarreia, vómitos. Embora se possam evitar alguns dos sintomas se se conseguir controlar a febre, é quase inevitável que se passe pelo menos um par de dias com o conjunto de todos. Posso dizer que não o desejo a ninguém. Em casos menos grave e com detecção rápida e medicação adequada é de esperar que tudo passe, mas consciente das sequelas. Em casos mais graves, há que encarar a hipótese de uma malária cerebral que entre diversos e sérios perigos clínicos, pode levar à morte.
E não é por falta de cuidados que já vou em quatro. Não. Durmo numa cama com rede mosquiteira e uso repelente. Mas que fazer? Para ser sincera, quatro vezes não é nada comparado com as vezes que um africano comum deve contrair a mesma doença ao longo da sua vida.
É uma doença básica, de tratamento simples e que facilmente poderia ser erradicada da face do planeta mas que simplesmente não interessa a ninguém no mundo civilizado.
Não interessa a ninguém que a malária mate uma pessoa por cada segundo que passa.
Não interessa que 300 a 500 milhões de casos clínicos de malária a cada ano que passa, resultem em 1,5 a 2,7 milhões de mortes.
Não interessa que essas que 90% dos números acima se refiram ao continente africano.
Não interessa que 99% das pessoas que padecem desta doença não tenham como eu, conhecimentos, acesso a cuidados médicos ou meios financeiros para se prevenirem contra a mesma ou para a tratar.
Não interessa porque tudo isto se passa em países ditos "sub-desenvolvidos".
Não interessa porque erradicar a doença não dá lucro imediato.
Por isso não sei se me queixe de ter tido malária pela quarta vez. Corro o risco de me armar em parva, privilegiada e egoísta.
E também não sei se não me queixe da hipocrisia do mundo que esta doença tão bem simboliza. Corro o risco de me armar em madre teresinha. Mas paciência.
Escolhi, quero e gosto de trabalhar em Moçambique. Mas Moçambique como parte do encanto de África e tal como a própria África em si, não estão contemplados no "mundimilhões" de preocupações do G20. Nem do G15, nem do G10 e nem do G de número nenhum! Ninguém falará na dita cimeira que decorrerá esta semana nas mortes causadas no continente africano pela malária. Oh senhores?!?! Que é isso comparado com a crise financeira mundial e com os milhões que os milionários perdem assim?
Anda o mundo numa azáfama por causa do sapo daqui, da abelha dali e mais o canteiro de flores que já é uma raridade no fdp do universo inteiro. E eu sem querer tirar a dignidade a todas as causas "justas" pergunto: o que é isso comparado com uma pessoa a morrer por segundo? Pelos vistos nada! E viva a humanidade.
Aguardo paciente, embora não ansiosamente a quinta malária, pois duvido que algo se resolva em relação ao assunto assim tão rapidamente. Há que injectar uns milhões numas quantas instituições financeiras a nível mundial ou seja lá o que fôr decidido injectar a nível de G20. Se não é que estamos todos lixadinhos. Cá vamos andando né mundo?