LAM... Lamentável Angustiante Moçambique

Sexta feira passada, dia 18 de Janeiro, dirijo-me ao aeroporto de Maputo cerca das 18h para viajar para Nampula. A viagem demora por norma, 2 horas e 50 minutos, com uma escala de meia hora no aeroporto da Beira.

Chegada ao aeroporto, faço o o check-in e fico (como é hábito) à espera que o avião que me vai levar a Nampula, chegue.

Uma breve explicação para que compreendam este fenómeno: os aeroportos em Moçambique, assemelham-se às paragens de autocarros (em Portugal por exemplo). Chegam, lá de onde vêm, atestam de combustível e passageiros e toca a andar, numa versão "non-stop". Isto já por si é assustador. Saber que estes aviões são do tempo da outra senhora... enfim... a chamada roleta-russa sem arma.

Adiante...

O meu avião (como é hábito), chegou meia hora atrasado. Com a paragem necessária para abastecimento de combustível e ao que parece uma espécie de manutenção, fomos chamados para embarcar com uma hora de atraso.

Quando ia a entregar o meu bilhete a senhora hospedeira de terra estabelece comigo o seguinte diálogo:
Ela: "A senhora tem o lugar 16B?"
Eu: "Sim, tenho."
Ela: "Queria pedir-lhe um grande favor. Esta senhora e este menino foram colocados no cockpit mas não são permitidas crianças lá. Tou a pedir se pode trocar com eles, só até à Beira?"
- Isto enquanto a senhora e a criança olhavam para mim com um ar desesperado de como quem vai ficar em terra.
Eu (que tenho mania de se armar em boazinha): "Está bem, eu troco".

Neste processo foi envolvido ainda outro passageiro e lá seguimos os dois para o cockpit do avião.
A todos que acalentam o sonho de viajar na cabine com o piloto aviso já que o espaço é reduzido e a cadeira nada confortável. Além disso, é frio que se farta e tive que aprender a usar uma máscara e conseguir fazer o procedimento necessário com a mesma em caso de emergência.

Foi tipo um mini ensaio, em que me disseram que se o comandante sacasse da sua máscara, eu teria três segundos, para fazer o mesmo.

Ora... três segundos não me pareceu muito tempo mas nem me atrevi a perguntar o que aconteceria se eu demorasse um segundo a mais.

(pensei) - Pronto, deixa lá curtir esta cena então. Olha tantas luzes e botões que giro!!!

Os pilotos fazem lá as cenas deles e toca de arrancar. Eís que estamos já no fim da pista, prestes a levantar vôo, quando umas luzes acendem e soam uns apitos. O senhor comandante diz para o co-piloto: vamos abortar isto.

(pensei) - Vamos abortarrrrr o quê?!?!? Oh cum caraças!!! As luzes acesas dizem "low oil level" e são uma data delas. Bolas, mas por que raios aceitei eu vir aqui?!?!

Voltamos para trás e ficamos todos dentro do avião enquanto a equipa de manutenção tenta reparar o raio das luzes.

45 minutos depois dizem que está resolvido e vamos seguir viagem. Lá vou eu para a cabine, outra vez. Nada descansada e já sem achar piada nenhuma à coisa.

Fazemos a viagem até à Beira e à excepção de uma das luzes ainda dizer "low oil level", correu tudo bem.

Na Beira, sai-se sempre do avião por meia hora, para sairem os passageiros que ficam por lá e para entrarem outros.

Ligo ao meu colega a dizer que dentro de 45 minutos pode ir para o aeroporto em Nampula esperar por mim.

E agora vem o resto do pesadelo que vou tentar relatar de forma abreviada para não maçar nínguem.
  1. Entramos no avião e seguimos para Nampula.
  2. Chegados lá, o senhor comandante diz que não podemos aterrar devido ao mau tempo. Temos de voltar para a Beira.
  3. Chegados à Beira, também não podemos aterrar devido à chuva tropical intensa. Temos de ir para Quelimane.
  4. Em Quelimane, dizem-nos para sair do avião e deixam-nos em terra. Sem nada para comer ou beber, ficamos ali cerca de 2 horas sem nos dizerem nada. Por essa altura já todos os passageiros tinham contactado com Nampula, de onde vinha a informação de que já não chovia e que sim, a chuva foi forte mas só demorou meia hora.

Por volta das 4h da manhã, mandam um dos assistentes de bordo falar com os passageiros. Depois de tanta espera, a LAM decidiu que vamos entrar todos no avião, apanhar uns passageiros na Beira e voltar para Maputo.

O QUÊ?!??!?

Isso mesmo. Estamos a meia hora do nosso destino e querem-nos levar 2 horas para trás de volta a Maputo.
Foi a confusão total. As pessoas gritavam e todos se recusaram a entrar no avião. Queriamos ir para Nampula, mas ao que parece a LAM estava pouco se lixando para isso. Com apenas dois aviões para serviço, um dos quais parado com este embróglio, a vertente comercial é para eles mais importante e pouco importou o facto de a bordo estarem cerca de 15 crianças, metade das quais viajava sózinha.

Como nos recusámos a voltar para trás. A LAM, através do seu pessoal de bordo, resolveu dizer que iriamos então até à Beira, onde providenciariam um hotel para descansarmos até resolverem a nossa situação.

Com este argumento, conseguiram que todos os passageiros entrassem no avião.

Mas a LAM mentiu. Chegados à Beira, dizem aos passageiros originários de lá para sairem, sobem outros passageiros a bordo e dizem que vamos para Maputo.

Passei-me. E perante o ar de “quero que se lixe” do pessoal de bordo a todas as perguntas que eram feitas, exigi sair do avião. Estava farta e cansada de tanta falta de profissionalismo e desrespeito pelos que dão dinheiro a ganhar à LAM.

Às 6h da manhã de Sábado e quase doze horas depois de ter iniciado esta epopeia, eu já nem queria saber de Nampula. Queria mesmo era descansar.
Saí mesmo do avião, eu e mais outro português, o Daniel.

Infelizmente o povo moçambicano é pacato e sereno e aceitaram voltar a Maputo, onde ao que sei tiveram que esperar sentados no aeroporto até às 14h para viajarem de novo para Nampula. Haja paciência!!!

Eu e o Daniel e os passageiros originários da Beira, fomos para o hotel e dormimos. Acordámos, almoçámos e vimos um pouco da Beira. Ao menos descansámos.
Foi o melhor que fizemos pois o vôo das 20h30 que nos devia levar a Nampula, só veio à 1h de Domingo, com a notícia de que ainda iríamos à Beira, buscar outros passageiros retidos.

Chegada a Nampula às 3h da madrugada.

Desculpem-me o português... mas puta que pariu a LAM.

E o que me irrita mais nisto, é que não me resta alternativa a não ser continuar a voar com esta espécie de companhia aérea.

Por terem o monopólio do mercado e além de serem uma bela porcaria, praticam os preços que querem (o meu bilhete ficou em 14.000 meticais, qualquer coisa como 560 USD ou 400€), para prestar esta bela merda de serviço.

O vôo em questão era o TM 4006 com partida Maputo às 19h20 e chegada a Nampula às 22h10. O avião é mesmo este da foto.


A LAM que me aguarde, que isto não fica por aqui.

4 comentários:

Sérgio disse...

I Love Mozambique!!!! Até parece um país que eu cá conheço...

S disse...

sérgio, nestas alturas só me apetece dizer T.I.F.A., o famoso T.I.A. - This Is Africa, mas ao qual acresentei um F. Adivinha a que corresponde?;)

Sérgio disse...

Hmmm...Fabulous?

S disse...

sérgio, então fica T.I.F.F.A. -This Is Fabulous Fucking Africa. ;)