Crianças de Moçambique

É-me dificil escrever. Não sei se consigo fazê-lo bem, não sei se consigo ser justa para com as crianças que visitei nestas duas últimas semanas.
Estou felizmente envolvida numa empresa que não tem só interesses comerciais. Tem também preocupações sociais. Sem ambições demagógicas de querer mudar o mundo, comecei a trabalhar no projecto social que (espero) mudará ao menos a região onde teremos a nossa exploração agrícola.
Reuni-me com as autoridades locais e ouvi.
Ouvi com atenção enquanto me descreviam as necessidades extremas. Pedi uma visita ao terreno. Para mim é primordial a educação e a saúde e no dia a seguir lá partimos, para o que foram, ao mesmo tempo, os dias mais belos e ao mesmo tempo mais tristes da minha vida.
Nada do que me foi descrito e do que imaginei, me preparou para o que encontrei.
Resumo-me à minha insignificância. Queixo-me muitas vezes e ao ver o que vi, nem sei bem porquê.
Encontrei crianças com vontade de aprender, de ser mais. Sentadas em paus e pedras. Sem água e sem luz. Sem instalações sanitárias. Sem comida. Com um tecto a cobrir a cabeça que só surte efeito se não chover. Sem nada, mesmo nada, além de um lápis, o livro de distribuição gratuita e uma grande força e um brilho no olhar de quem não sofre pelo que nunca teve.
Apesar de terem tão pouco, ensinaram-me muito. Estou grata por esta experiência. Estarei empenhada em dar tudo de mim, por pouco que seja, o meu trabalho, para estas crianças.
A diferença entre uma barriga cheia e uma barriga vazia, acertaram-me de forma fulminante.
(Distrito de Monapo - Província de Nampula)









3 comentários:

pirulito disse...

Sylvia, olhando para as fotos não é difícil ficar incomodado e até com algum sentimento de culpa sem ter culpa nenhuma, tendo em conta os bens que nós por vezes desprezamos inconscientemente só porque passam de moda, ou o facto de nos darmos ao luxo de não repetir o prato ao jantar só porque o comemos ao almoço.
Que crueldade.

S disse...

sérgio, pois. Eu por exemplo ao falar com os meninos fiquei a saber que muitos nao comem nada antes de vir para a escola, não têm nada para comer na escola e chegados a casa o máximo que os espera é um prato de chima )uma farinha cozinhada com água) ou raizes de cassava (um gênero de mandioca). E tanta gente preocupada por este mundo fora porque "o meu filho não come chocolate porque faz mal". Irónico no mínimo. Triste sem dúvida porque estes meninos nem sabem a que sabe o chocolate.

Muzungu disse...

Compreendo perfeitamente o q deves ter sentido, eu tb o senti e sinto cada vez q saio do mato, ou seja uma vez por mês mas cada vez q volto venho mais deprimido.Aqui também há escolas assim, as crianças tb teem esse brilho nos olhos q ao longo da vida se vai perdendo, quando se apercebem onde estão inseridos, uma sociedade em q o futuro não se avizinha famoso.Quando mandei as primeiras fotos para Portugal da escola aqui da aldeia mais próxima aconteceu uma coisa q eu nunca pude imaginar, as crianças da escola dos meus filhos organizaram-se e com o resto do pessoal docente começaram a angariar materiais escolares para enviar para cá,materiais esses q já veem a caminho,para ajudar uma escola, só uma, e as outras? Como se pode resolver um problema q quando vi o teu post me apercebi q não é só do Malawi mas tb dos paises vizinhos.Sem uma boa educação uma sociedade não pode evoluir, não consegue criar riqueza, riqueza essa q possa prolongar o brilho dos olhos das crianças por mais tempo, igual ao brilho q vejo nos olhos dos meus filhos.
De facto é uma crueldade ficarmos chateados com o prato q repetimos em duas refeições quando eles aqui comem nshima a todas as refeições, sem mais nada só nshima quando a há...
as fotos da escola da Kaielekera estao aqui http://welcometokayelekera.blogspot.com/2008/06/escola-est-cheia.html
ao menos teem carteiras...

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