Batem à porta.
Eu.
Deitada.
A minha vida espalhada na cama.
Os cigarros, o cinzeiro.
Telemóvel como quem espera.
Alguém que chame.
Lençol enrolado.
Enrugado, desprezado.
Precisarei dele.
Com a brisa da lua, vou sentir frio.
Um livro.
Dá-me esperança.
Tudo espalhado na cama.
Bateram à porta.
Não se me altera o batimento.
Não me atormento.
Ás vezes é só o carteiro ou alguém que se enganou na morada.
Quase nunca vale a pena.
Faço. Como se fosse nada.
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Expressão despreocupada.
O meu coração diz que é melhor assim.
Sabemos bem como fazer.
Sem emoções.
Sinto-me.
Peço-lhe.
Não te animes.
Finge alguma distância.
Diz-me.
Não nos vamos meter em apuros.
Preferimos assim.
Ambos sabemos.
Estamos mais seguros.
A um “bater na porta” não se pode dar grande importância.
Até porque tenho a vida espalhada na cama.
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Acto reflexo.
Sem pensamento.
Abro a porta.
Não distingo a forma.
Alguém em movimento.
Assemelha-se a toda a gente.
Cumprimenta-me.
Diz-me.
Tem algo para fazer cá dentro.
Não percebo bem o quê.
Convido-o a entrar.
Não sem antes o avisar.
Tenho a vida espalhada na cama.
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Falamos sobre coisas.
Nada de especial.
Conversa de circunstância.
Preenchemos o vazio.
Eu, o meu. Ele, o dele.
Sem nos darmos conta.
Já cá estamos.
Vê a minha vida espalhada na cama.
Continuo sem saber o que veio fazer cá dentro.
Não me importo.
Gosto de não estar só.
O tempo passa e não dou por nada.
Sinto-me acompanhada.
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Pressinto.
Esperança.
Faço o meu melhor sorriso.
Dedico-lhe um beijo.
Cortejo.
Sem me dar conta.
Prolongo o seu tempo comigo.
Procuro o seu olhar.
Como o meu, meio perdido.
Enamorado.
Olhar tímido.
Dirige-se a mim.
Diz que é assim.
Envergonhado.
Convido-a a sentar-se na cama.
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Resisto.
Não digo.
Podes ser como quiseres comigo.
Segreda-me algo.
Não é preciso.
Ao ouvido.
Ele sabe.
Adivinha-me.
Um sorriso que me molda.
Que me mostra.
Está tudo bem, tudo quase perfeito.
Diz-me que quer, também ele, desperdiçar o seu tempo.
Damos um jeito.
Esperamos.
Juntos.
Pela minha vida espalhada na cama.
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Sorrimos os dois.
O meu primeiro sorriso.
A sério. A sério.
Este é mesmo a sério.
O primeiro em muito tempo.
Agrada-me vê-lo feliz.
Sabe-me bem.
Ainda bem que abri a porta.
Penso.
Poderia não estar em casa.
Mas estava.
Calhou, naquele dia não ter saído.
Calhou, ter-me dado para abrir.
Ainda bem que o fiz.
Que estava para aqui espalhada na cama.
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Os dias passam.
Nós ali.
Não queremos.
Que tenha um fim.
Ambos sabemos.
Ficar, estar, esperar.
Se existirmos, somos.
Prosseguimos.
Sonhamos.
Parece que gravitamos.
Vôo em frente.
Espero por ele.
Acompanha-me.
Pressente a minha direcção.
Ia no mesmo sentido.
Diz-me.
Procuro a tua vida espalhada na cama.
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Sorrio.
Já sei o que veio cá fazer dentro.
Porto de abrigo.
Sonho.
Deliro.
Racionalidade ausente.
Viajo pela sua alma.
Sinto o seu corpo.
Quero.
Estendo-lhe a mão.
Tirei-a entretanto do bolso.
Tenho mesmo de ir.
Devia tê-lo cumprimentado logo ao início.
Desperdicei o seu calor.
Sem o saber.
Despedimo-nos por umas horas.
Vontade e querer.
Contento-me.
Expressei-os sem me aperceber.
Sei que amanhã, volta.
Ele.
Com um pretexto.
Eu.
Com a vida espalhada na cama.
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Vou esperar.
Desejando a sua presença.
Que bata à porta por mim.
Por agora fico assim.
Com a minha vida espalhada na cama.
Com a ilusão de que ele me ama.
10 comentários:
muito bonito... é só isso!
susana, obrigada. :)
Obrigado pela visita Silvia.
Deves ter muita sorte em fazeres o que achas que para ti está bem. OLha é preciso ter calma
beijinhos
nabisk, tenho sorte sim e estou calma. Pelo menos hoje. :)
beijinhos
Muito intenso. Muito sentido. Muito bonito.
Beijinho.
htsousa, isso vindo de ti... obrigada :)
Vejo a tua boca abrir-se ao infinito,
os olhos fecharem-se vagando sossego,
as mãos abertas nos braços colhidos,
os lábios mover e dizerem-se,
ao ouvido sussurrando,
Foi bom, meu amor, amo-te muito!
nelson, afinal o poeta sempre anda inspirado. ;)
Ah poetisa!
Gostei dessa imagem... ;)
zharpah, ena pah... cá vai o meu obrigada. :)
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