Tralhas e coisas que não me fazem falta nenhuma

Tenho tudo o que é meu encaixotado e desmontado.

Há um ano e alguns pózinhos atrás resolvi que ia partir. Há um ano e menos pózinhos atrás, parti mesmo.

Ao principio, parti apenas. Deixei tudo como estava. Fiz uma mala, fechei a porta e sai. Tão simples como isso. Passados 4 meses voltei e desmontei a minha vida de vez. Tinha estado na Alemanha e de regresso a Portugal continuei a sentir aquele desejo de partir que me trouxe aqui, a Moçambique.

Pensei, não é aqui que quero estar agora, não faz sentido continuar com tudo isto. Cancelei o contrato da casa. Depois comecei a encaixotar as minhas coisas, mas só aquelas com que queria mesmo ficar e esvaziei a casa.

Desfiz-me de algumas coisas que já não queria e outras cedi a quem achei que precisava mais do que eu. O meu carro ficou com a minha mãe. Estava farta de a ver a ir a pé para o serviço e assim escusa de ficar parado a apodrecer na rua.

“Emprestadei” também os seguintes bens materiais, que foram distribuídos da seguinte forma:

  • sofás, estante da sala, mesas e cadeiras e ainda a máquina de lavar loiça que foram para a minha mãe (máquina de lavar ela não tinha e quanto à sala fui eu que insisti muito... sei lá apeteceu-me que ela tivesse uma sala nova e gostei de lhe proporcionar isso);
  • mobília do quarto dos meus filhos e demais acessórios e ainda televisão, dvd, mini-aparelhagem de som e computador que instalei no meu antigo quarto de solteira em casa da minha mãe, para deixar por lá um canto aos meus filhos (foi a minha forma de lhes deixar um cantinho com ar da nossa casa, já que de momento tal coisa não existe. Palpita-me que vai tudo ficar por lá);
  • mobília do meu quarto, foi para casa da namorada do meu ex-marido (a namorada tinha um quarto vazio em casa e assim já não está);
  • microondas que dei à mãe do meu ex-marido (o dela tinha-se avariado);
  • a mesa e cadeiras da cozinha (que foram para o campismo dos sogros).

De resto fiquei com pouca coisa encaixotada, coisas de gaja como roupas e sapatos e adereços que que não valia a pena trazer comigo, os meus cds e livros, os albuns de fotografia, as cassetes de video com os filmes da minha vida, brinquedos e recordações dos meus filhos; as antiguidades que herdei do meu avô, as poucas estatuetas africanas que tinha lá por casa e alguns quadros, a loiça e acessórios de cozinha, o fogão, a máquina de lavar roupa e o esquentador e agora não me lembro assim de mais nada.

Tudo isto ocupou no máximo umas 10 caixas de cartão (gentilmente cedidas pelo Mini-Preço da Cova da Piedade) e foi armazenado num espaço cedido pela familia do meu ex-marido.

A minha família acha (assim mais ou menos) que eu estou maluca e a minha mãe só me dizia “Oh filha mas estás a desfazer-te de quase tudo, como vais fazer quando voltares?”.

Respondi-lhe sempre que não estava minimamente preocupada com isso, quando voltar logo vejo. Mas de facto compreendo a minha mãe.

Tinha o seu sonho de mãe realizado, ver a filha com um emprego estável, com a sua casa e carro, com a sua familia e de repente a filha resolve que não é assim que quer viver, que quer mudar, que quer crescer, pior que isso, põe em prática o que pensa.

Como mãe que sou também, sou obrigada a compreender. Mas como filha, faço o que desejo que os meus filhos façam também, se um dia não estiverem bem que se mudem, que procurem o que querem, nem que para isso tenham de virar a vida do avesso e dar-me umas dores de cabeça pelo meio.

Às vezes penso, mas agora não tenho quase nada... ai meu deus!!! E devem estar a ler e a pensar, mas esta gaja é doida!?!?

Pois, devo ser, mas a verdade é que todas essas coisas de que me desfiz fazem parte do “antes” de partir, quando voltar quero diferente. Pode parecer estúpido, mas é mesmo assim que me sinto. Além de que todas essas coisas materiais não me fazem falta nenhuma. Não passam de tralhas. O que preciso mesmo a sério está guardado dentro de mim e para isso não preciso de casa nem de caixotes.

Ao fim de um ano acho que a minha mãe já se habituou à ideia. A ideia de que a filha que ocupava um T3 em Portugal, tem neste momento a vida metida em 10 caixotes... o resto anda à solta por aí, a mudar. Na minha opinião para melhor. Pelo menos sinto-me assim. EU, agora numa versão desencaixotada.

4 comentários:

Hélder disse...

Tens razão, tudo o que precisas está dentro de ti. As coisas só têm o valor que nós lhes dermos. Espero ser capaz de ser inconformista se e quando sentir essa necessidade.
Mudar porque sim, porque é o que queremos, o que faz sentido.

Beijinhos.

Susana disse...

hahahahaha...
tamos ambas completamente chafradas... olha... as minhas coisas eu nem sei se estão encaixotadas e não faço puto de ideia por onde andam algumas delas... na verdade mesmo que voltasse agorinha mesmo a portugal acho que fazia uma fogeira com tudo no Rossio... são coisas de antes... é isso... já não faz sentido agarrar a vida como era... é como o anuncio do Ice Tea: mudasti!!!! hihihihihihihi

jp disse...

:)

S disse...

htsousa, obrigada por seres um dos que compreende. :)

susana, mudasti mesmo!!! :D

nelson, ;)