Quinta-feira, 13 de Dezembro

Sete da matina e já estamos todos juntos ao pequeno-almoço. Falamos de trabalho, como vai ser o dia, as prioridades de cada um.
Pequena pausa para verificar o email e sigo a caminho do que há-se ser a maior plantação de bananas de África. No mesmo local, será também a minha casa. Chegamos ao Namialo, a 70 km de Nampula, está um calor tremendo, um sol abrasador mas andamos pelo terreno. Quero mesmo ver isto tudo. Estou cada vez mais entusiasmada, dez mil hectares de terreno e tudo por fazer. Eu tenho a sorte de fazer parte da equipa que vai pôr tudo a andar. Estou a adorar o friozinho que me dá na barriga perante a tarefa hercúlea que tenho pela frente.
Às 12h30 saio com o meu colega Piet que de um momento para o outro me passa uma apresentação powerpoint para as mãos e me diz que dentro de 45 minutos tenho que a apresentar em Monapo (20 km de Namialo), num colóquio sobre agricultura. LOL ok, bora lá... e lá fomos.
A caminho, tive a minha primeira experiência de mato, com o carro a avariar a 5 km da povoação mais próxima. "Ai que já não chegamos a tempo de fazer a apresentação" e "Ai que começou a chover torrencialmente".
Estou mesmo em África e o mais provável é que o improvável aconteça. Por sorte um dos meus colegas parece o Mcgiver e em plena chuvada, abriu o capô, meteu-se por baixo do carro e descobriu o problema. Um furo no tubo que leva a gasolina do tanque ao motor. Amarrou-lhe um saco plástico e lá seguimos viagem.
Chegados a Monapo constato, que estou de facto em Moçambique e que a nossa apresentação que deveria ser às 13h15 foi “ligeiramente” adiada para daí a três horas. No programa do colóquio, a nossa apresentação vem em décimo lugar e ainda faltam seis, até chegar a minha vez.
Às 17h00 a gaja dirige-se à audiência e em quinze minutos tenho o assunto despachado. Agora é só responder a umas perguntas meio desenquadradas do que foi falado. O auditório quer participar e acha para isso é só preciso falar. Dá-me a impressão que nem sabem bem o que dizer, mas gostam de vir até ao palco e pegar no microfone. Ouço, tomo notas, parece que estive a falar chinês e as minhas respostas são na base de explicar que dois, mais dois, são quatro e não seis ou sete como parece que compreenderam.
19h e estou novamente em Nampula, duche rápido e jantar com a malta. Fala-se sobre o dia e há um sentimento de satisfação geral.

Acabo a noite a beber um copo com o Chisch e o Piet, num bar que não podia ter um nome mais apropriado: Bagdad. Na parede ao fundo do bar uma cara que mete medo, dizem-me que é jesus cristinho que nos olha com ar ameaçador por estarmos a pecar. A mim parece-me mais um árabe mal disposto e feio como os trovões, mas já estou por tudo, o que eu quero mesmo é ir-me deitar.

Sem comentários: