Bom dia

Acabo o meu dia agora. São 22h30 e estou acordada desde as 6h. Os meus dias têm sido assim, trabalho, trabalho, trabalho. Dos meus dias, nada tenho a dizer. Não me apetece escrever. O facto de estar só e aqui, retem-me da escrita. Porque sei que ao forçar-me a tal transmitirei um sentimento de insatisfação que em pouco corresponde à verdade. Porque estou aqui, em África, em Moçambique, sozinha, as coisas não são tão fáceis. Mas também... não são tão dificeis. O que sinto, é nem mais nem menos, falta de com quem falar. E não é fácil. Amigos de Portugal, estão longe de saber o que sinto. Família, não quero de todo que se preocupem com nada. E não sei se tristemente ou alegremente, hoje dei por mim a acordar alguém às 7h da manhã em Portugal. Só porque precisava de falar, só porque essa pessoa era a única capaz de me ouvir e saber o que estou a sentir. Só porque essa pessoa, por muito diferente que seja, é capaz de ser tão igual a mim. Só porque falar com ela transformou o meu dia em algo muito melhor. Sinto tanta falta de pessoas iguais a mim. Muita falta mesmo. À amiga que me ouviu às 7h da manhã e durante mais de uma hora... saudades. Saudades de te ter aqui comigo. Contigo falei de tudo.

Casa



Ñick's zinhos do msn(3)

"Sê feliz! A vida continua a seguir a... ontem".

So far

Ou estou a ficar mesmo cota ou estou com uma pseudo-depressão nostálgica, mas o facto é que estou a passar uma tarde "daquelas" a ouvir música. E os apetites musicais... Dire Straits. Entre outras coisas diz o Sr. Mark Knofler e muito bem:

See you been in the sun and I've been in the rain
And you're so far away from me
So far away from me
So far I just can't see

É isso. Com o passar dos anos vai-se ficando assim.

Do Not Disturb

Ela teve um daqueles dias de "não me chateiem". Andou atarefada e a trabalhar mas resolveu tirar uma folga espiritual e não se preocupar mesmo com nada. Emails, ler, responder - automático. Telefonemas, falar rápido e toca a despachar. Tudo à queima-roupa para não deixar ninguém entrar. Nos poucos momentos em que esteve acompanhada, não se conseguiu concentrar. Escutou as pessoas, mas não se esforçou à interacção, reduzindo inconscientemente o tempo de companhia.
-"Hoje quero estar em paz (pensou). Nada me vai conseguir chatear".
Chegara o seu dia de descanso. À multidão de vozes, de pensamentos e de pessoas que o dia-a-dia lhe trás, ela só pede uma trégua: um grande minuto sozinha.

Eh pah poupem-me!

Deixar o msn ligado quando se sai para trabalhar tem as suas consequências. Um amigo deixou-me a seguinte mensagem:


XXXXX said:
ola sylvia

XXXXX said:
como vais por ai ?
XXXXX said:
nessa foto dava te 19 aninhos ... o brasil ta a fazer te bem beij


Hmmmm! Lá os "19 aninhos" até que sabe bem ouvir. Agora...ooooo Brasillll?!?!?

Pergunta(4)

Porque se diz o que não se sente?

Crianças de Moçambique

É-me dificil escrever. Não sei se consigo fazê-lo bem, não sei se consigo ser justa para com as crianças que visitei nestas duas últimas semanas.
Estou felizmente envolvida numa empresa que não tem só interesses comerciais. Tem também preocupações sociais. Sem ambições demagógicas de querer mudar o mundo, comecei a trabalhar no projecto social que (espero) mudará ao menos a região onde teremos a nossa exploração agrícola.
Reuni-me com as autoridades locais e ouvi.
Ouvi com atenção enquanto me descreviam as necessidades extremas. Pedi uma visita ao terreno. Para mim é primordial a educação e a saúde e no dia a seguir lá partimos, para o que foram, ao mesmo tempo, os dias mais belos e ao mesmo tempo mais tristes da minha vida.
Nada do que me foi descrito e do que imaginei, me preparou para o que encontrei.
Resumo-me à minha insignificância. Queixo-me muitas vezes e ao ver o que vi, nem sei bem porquê.
Encontrei crianças com vontade de aprender, de ser mais. Sentadas em paus e pedras. Sem água e sem luz. Sem instalações sanitárias. Sem comida. Com um tecto a cobrir a cabeça que só surte efeito se não chover. Sem nada, mesmo nada, além de um lápis, o livro de distribuição gratuita e uma grande força e um brilho no olhar de quem não sofre pelo que nunca teve.
Apesar de terem tão pouco, ensinaram-me muito. Estou grata por esta experiência. Estarei empenhada em dar tudo de mim, por pouco que seja, o meu trabalho, para estas crianças.
A diferença entre uma barriga cheia e uma barriga vazia, acertaram-me de forma fulminante.
(Distrito de Monapo - Província de Nampula)









Olhar para fora


Ela

Ela sabe que a vida lhe pertence.
Depois de vaguear por aqui e por ali, encontrou-se.
Teve que nascer, morrer, aprender, renascer e viver.

Sumo de laranja

Eu: Boa tarde. Tem sumo de laranja?
Ele: Laranja??? Tenho maçã, manga e sumo de mistura.
Eu: Sim. E laranja tem?
Ele: Laranja??? Não tem. Mas tem ananás, manga, papaia, banana...
Eu: Não. Não é fruta. Sumo???
Ele: Sumo??? Não. Quer dizer sim. Maçã, manga e mistura.
Eu: Então não tem sumo de laranja?
Ele: Sim.
Eu: Sim???!!! Espere lá tem ou não tem?
Ele: Sim... quer dizer... não.


(eu a pensar... ai jesus cristinho me valha)


Eu: Espere... vamos começar de novo... Eu pergunto e o senhor só me responde... sim ou não. Ok?
Ele: Sim.
Eu: Tem sumo de laranja?
Ele: Tem maçã, manga e sumo de mistura...



(eu a pensar... ai.... aiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii)


Eu: Olhe... esqueça, traga-me uma água. Garrafa de água... águuuuuuuua, fresca.... freeeeeeessscaaa. Ok?
Ele: Grande ou pequena senhora?
Eu (já em desespero): Tanto faz. Escolha o senhor.


Conversa com um empregado de mesa, num café em Nampula.

Da janela do meu quarto


Nampula - Moçambique

Rio

Sem tempo
Corro
Como o rio
Desacompanhada
Em compasso
Sigo o ritmo
Trespasso
O tempo
A vida que corre
Acelerada
Persigo
Consigo
Espaço
Quero ser
Correr
Viver
Como o rio